Há algo no Natal que escapa às luzes, às vitrines e ao calendário. Essa época do ano parece abrir fendas por onde retornam afetos antigos, desejos infantis e cenas que nunca desapareceram de fato — apenas se recolheram em silêncio. Freud nos ensinou que o inconsciente não conhece tempo: nele, o passado continua ativo, vivo, pulsante. Por isso, mesmo adultos que se dizem “desligados” das festas podem se ver tomados por uma saudade inexplicável, por um entusiasmo desmedido ou por uma tristeza que não sabem nomear. O Natal, com sua atmosfera carregada de símbolos, funciona como um disparador emocional que convoca a criança que um dia fomos — a criança que esperou, desejou, temeu, fantasiou. Para Freud, aquilo que retorna nas festas não é uma lembrança literal, mas um traço mnêmico : um resto afetivo que sobreviveu às transformações da vida adulta. Músicas, cheiros, rituais e encontros familiares atualizam esses traços e despertam emoções que pertencem a camadas profundas da psique. I...
Nunca estivemos tão conectados — e, paradoxalmente, tão sós. Mensagens chegam instantaneamente, imagens circulam sem cessar, estamos “presentes” em dezenas de espaços ao mesmo tempo. Ainda assim, cresce um sentimento difuso de vazio, de abandono silencioso, de desencontro consigo e com o outro. A solidão contemporânea não nasce mais da ausência física, mas muitas vezes do excesso de presenças superficiais. Estamos cercados de contatos, mas carentes de encontros. A psicanálise ajuda a compreender que o ser humano não busca apenas companhia, mas reconhecimento psíquico. Desde Freud, sabemos que não basta estar com alguém: é preciso ser visto em sua singularidade. Quando isso falha, emerge um tipo de solidão que não é espacial, mas afetiva. Alguém pode estar rodeado de pessoas e, ainda assim, sentir-se profundamente só, pois não se sente escutado, desejado, nem verdadeiramente acolhido. Winnicott nos ensinou que o amadurecimento emocional depende da experiência de um ambiente...