A saúde mental, sob o prisma da psicanálise, vai muito além da simples ausência de transtornos. Trata-se, na verdade, de um processo psíquico vivo, denso e profundamente elaborado, que não encontra repouso na quietude, mas pulsa na capacidade de transformar o caos da experiência humana — aquilo que Bion chamou de “elementos beta”, sensações e afetos brutos, ainda sem forma — em algo pensável, em “elementos alfa”, dotados de sentido e capazes de se integrar ao tecido do inconsciente e da consciência.
Essa transformação exige a presença de uma função psíquica interna que funcione como continente, algo que se estrutura nas nossas primeiras trocas afetivas. A escuta, o acolhimento e a disponibilidade emocional dos cuidadores iniciais — sobretudo a função materna, simbolizada pela “mãe continente” — moldam o aparato psíquico que nos permitirá conter e processar angústias e frustrações. É a partir dessa base que o bebê — e depois o adulto — pode construir um espaço interno suficientemente estável para lidar com suas próprias emoções. Quando essa função continente não se constitui de forma robusta, os elementos beta permanecem como intrusos no psiquismo: aparecem como angústias sem nome, impulsos desorganizados ou sintomas no corpo, mantendo o sujeito em estado de sofrimento e fragmentação.
Por isso, o caminho em direção à saúde mental não é um ponto de chegada, mas um trabalho psíquico permanente. É esse esforço contínuo de lapidar a função alfa interna que torna possível dar forma e sentido ao que, de outro modo, nos afogaria num mar de desamparo. E a vida contemporânea, com sua pressa, excesso de estímulos e a fragilidade dos espaços de acolhimento coletivo, impõe desafios concretos a essa tarefa. A sensação de um eu fragmentado, a dificuldade em sustentar ambivalências e o impulso para descarregar tensões de forma imediata dificultam a simbolização, tornando ainda mais necessário o desenvolvimento de ferramentas internas — e externas — de contenção.
Nesse cenário, a psicanálise não se limita a desvelar o inconsciente. Seu valor reside, também, em fortalecer essa capacidade tão essencial de elaboração. Através da escuta atenta e da oferta de um espaço de continência simbólica, a análise pessoal permite que aquilo que antes era evacuado ou dissociado possa ser recebido, pensado, transformado. É nesse processo de dar novo sentido à angústia e de converter a fragmentação em coerência que o sujeito encontra, aos poucos, sua capacidade de resiliência e a chance de habitar o mundo de modo mais íntegro. Afinal, aventurar-se pelo próprio mundo interno é um ato de coragem — e, muitas vezes, é justamente na dor de encarar a verdade que reside o mais poderoso impulso para crescer e se curar.
Essa transformação exige a presença de uma função psíquica interna que funcione como continente, algo que se estrutura nas nossas primeiras trocas afetivas. A escuta, o acolhimento e a disponibilidade emocional dos cuidadores iniciais — sobretudo a função materna, simbolizada pela “mãe continente” — moldam o aparato psíquico que nos permitirá conter e processar angústias e frustrações. É a partir dessa base que o bebê — e depois o adulto — pode construir um espaço interno suficientemente estável para lidar com suas próprias emoções. Quando essa função continente não se constitui de forma robusta, os elementos beta permanecem como intrusos no psiquismo: aparecem como angústias sem nome, impulsos desorganizados ou sintomas no corpo, mantendo o sujeito em estado de sofrimento e fragmentação.
Por isso, o caminho em direção à saúde mental não é um ponto de chegada, mas um trabalho psíquico permanente. É esse esforço contínuo de lapidar a função alfa interna que torna possível dar forma e sentido ao que, de outro modo, nos afogaria num mar de desamparo. E a vida contemporânea, com sua pressa, excesso de estímulos e a fragilidade dos espaços de acolhimento coletivo, impõe desafios concretos a essa tarefa. A sensação de um eu fragmentado, a dificuldade em sustentar ambivalências e o impulso para descarregar tensões de forma imediata dificultam a simbolização, tornando ainda mais necessário o desenvolvimento de ferramentas internas — e externas — de contenção.
Nesse cenário, a psicanálise não se limita a desvelar o inconsciente. Seu valor reside, também, em fortalecer essa capacidade tão essencial de elaboração. Através da escuta atenta e da oferta de um espaço de continência simbólica, a análise pessoal permite que aquilo que antes era evacuado ou dissociado possa ser recebido, pensado, transformado. É nesse processo de dar novo sentido à angústia e de converter a fragmentação em coerência que o sujeito encontra, aos poucos, sua capacidade de resiliência e a chance de habitar o mundo de modo mais íntegro. Afinal, aventurar-se pelo próprio mundo interno é um ato de coragem — e, muitas vezes, é justamente na dor de encarar a verdade que reside o mais poderoso impulso para crescer e se curar.
Daniel Lima | Psicanalista | @daniellima.pe
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