Bertha Pappenheim, conhecida como Ana O., era uma jovem nobre de Viena que começou a desenvolver sintomas do que então era chamado de quadro de histeria. Aos 21 anos, ela sofria com alucinações, paralisia, fortes dores no corpo, entre outros sintomas. No entanto, as avaliações médicas indicavam que ela estava em boa saúde. Freud foi convidado por Breuer para analisar seu caso. Os traumas de infância vieram à tona, possibilitando compreender a origem daqueles sintomas, manifestados pelo corpo. Daí surgiu o conceito da "cura pela fala."
A partir dos atendimentos em seu consultório, Freud aperfeiçoou o conceito de cura pela fala, experimentado por Ana O., e o denominou como livre associação de ideias. Este método consiste em incentivar o paciente a falar, liberar pensamentos e sentimentos, expressar o que está dentro, mesmo que, a princípio, pareçam abstratos — "A regra é [...] convidar o outro a dizer tudo o que lhe vem à cabeça" (Jacques-Alain Miller). O analista é alguém que passou pelo processo de uma análise, ou que ainda está nela, mas já avançou o suficiente para acolher outros no processo de dizer livremente tudo o que se passa pela cabeça, sem o filtro da censura, sem meias palavras, mesmo com medo, vergonha, sofrimento ou qualquer outro afeto que possa emergir diante do saber sobre si. Os efeitos da fala e da escuta, isentos de julgamentos, são imprevisíveis, mas existem.
Freud, ao investigar os sintomas no corpo via fala e linguagem de pacientes histéricas, deparou-se com o conflito e com o recalque. Descobriu que a função do "eu" é resistir e que a resistência cria mais resistência na forma de sintomas, como formações do inconsciente e retorno do recalcado. Lacan disse que o inconsciente mente para dizer a verdade. A análise é como um processo de leitura, com a função de escrita de outro texto. Freud criou a psicanálise como um método de leitura e deciframento das formações do inconsciente — "O 'eu' não é senhor de sua morada." O analista ensina àquele que sofre, ao ler o seu inconsciente, a parar de sofrer e encontrar o mais singular de si, perdido no emaranhado das identificações e dos mandatos super-heróicos.
A psicanálise cura! Isto é um fato. Em 1905, Freud afirmou que a psicanálise é um procedimento de cura para aqueles que não encontram em outro tratamento o alívio para o seu sofrimento. Pessoas que estavam incapacitadas de viver uma vida em que fosse possível amar e trabalhar. A psicanálise é uma cura do ser, um processo de transformação em que, através do sofrimento, o paciente reedita sua história.
Daniel Lima
Psicanalista
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