
(Friedrich Nietzsche - "A Gaia Ciência", Livro IV, Aforismo 276)
O que esperamos do novo ano que se inicia? É habitual começarmos com metas, correções, desejos, esperanças, entre outras expectativas. Mas, o que estamos dispostos a modificar, melhorar em nós mesmos, para que este ano seja realmente diferente? Afinal, se não mudamos atitudes, não podemos esperar novos resultados. Muitas vezes, mudamos para agradar outras pessoas, mas raramente nos transformamos para nosso próprio aprimoramento, e não para alcançar uma perfeição impossível.
Um novo ano sempre está associado a um novo começo, principalmente após um período tumultuado. Esta é uma reação inevitável de autopreservação pela qual a humanidade passa. O ano de 2020 nos trouxe grandes lições sobre a importância da conexão entre nós, rumo a um futuro promissor. Tudo depende de nós! Exemplos como o uso de máscaras evidenciam isso: nos protegemos ao proteger o outro.
Surge então a questão: Como você enxerga tudo isso? Você vê o copo meio vazio ou meio cheio? Ser pessimista ou otimista – melhor seria dizer esperançoso – em relação à vida é amplamente influenciado por nossos cérebros e genes. Portanto, como podemos adotar uma abordagem equilibrada para todas as situações que possam surgir?
Ser continuamente otimista não é o ideal, pois se não reconhecermos o perigo em certas situações, podemos enfrentar problemas. Por outro lado, o pessimismo constante também não é benéfico. Precisamos conectar essas duas tendências de forma equilibrada, como o positivo e o negativo em um circuito elétrico. Ao observamos profundamente, percebemos que em todo pessimista reside um pouco de otimismo e vice-versa. Estudos indicam que pessoas otimistas tendem a focar no progresso e crescimento, enquanto os pessimistas concentram-se na confiança e estabilidade, evitando riscos desnecessários. A mistura certa dessas tendências pode nos mover adiante com segurança e confiança.
Para renovar nossa perspectiva de vida, precisamos nos conectar com diferentes tipos de pessoas. Considere que não só possuímos dois olhos, mas nosso cérebro também é dividido em duas partes. A combinação de opostos é necessária para construir um sistema de trabalho completo. Nos últimos anos, essa compreensão foi incorporada em ciência, tecnologia e outras inovações significativas, que exigem um alto nível de integração.
Portanto, a autocrítica constante ou nos pressionarmos por mudanças é inútil. É mais produtivo focar no desenvolvimento de relacionamentos, pois isso revela muito sobre nós mesmos. Em um mundo onde estamos cada vez mais interdependentes, apenas ao nos complementarmos com garantia mútua poderemos criar um sistema estável para evitar a ruína da humanidade – uma lição amarga aprendida durante a pandemia da Covid-19.
Um dos desafios da nossa era é manter a diferença e singularidade de cada indivíduo enquanto construímos laços e vínculos com outros, sem tentar encaixá-los em nosso padrão. Esse processo abrirá para nós novas emoções integrais, complementares e compartilhadas, revelando uma nova dimensão de existência: a unidade na diversidade. Assim, a melhor resolução de Ano Novo é caminharmos para uma conexão mais profunda uns com os outros e, especialmente, conosco mesmos, pois a maneira como lidamos consigo será refletida em nosso modo de agir com o outro.
Daniel Lima
Psicanalista
Comentários
Postar um comentário