“Eu ainda vivo, eu ainda
penso: ainda tenho de viver, pois ainda tenho de pensar. "Sum, ergo
cogito: cogito, ergo sum" [Eu sou, portanto penso: eu penso, portanto
sou]. Hoje, cada um se permite expressar o seu mais caro desejo e pensamento:
também eu, então, quero dizer o que desejo para mim mesmo e que pensamento,
este ano, me veio primeiramente ao coração - que pensamento deverá ser para mim
razão, garantia e doçura de toda a vida que me resta! Quero cada vez mais
aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas: - assim me
tornarei um daqueles que fazem belas as coisas. "Amor fati"
[amor ao destino]: seja este, doravante, o meu amor! Não quero fazer guerra ao
que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que a
minha única negação seja "desviar o olhar"! E, tudo somado e em suma:
quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!”
(Friedrich Nietzsche - In: "A Gaia
Ciência" - Livro IV, Aforismo 276)
O que esperamos do novo ano que se inicia? É
comum iniciar com metas, correções, desejos, esperança, entre outras coisas.
Mas o que estamos dispostos a fazer, mudar, melhorar em nós, para nós mesmos a
fim de que este ano seja diferente. Até porque se não mudamos atitudes, não
podemos ter novos resultados. Não poucas vezes mudamos para agradar uma
outra pessoa e raras vezes mudamos para nos melhorar e não para nos
tornarmos perfeitos.
Um novo ano sempre está associado a um novo
começo, principalmente depois de um ano tão turbulento. Esta é uma reação
inevitável de autopreservação pela qual a humanidade passa. O ano de 2020 foi
de grandes lições com uma revelação para a importância da conexão entre nós a
fim de fazer um novo começo rumo a um bom futuro. Tudo depende da nós!
Afinal, até mesmo no uso de máscaras vemos a realidade disso, nos protegemos
protegendo o outro.
Cabe então a pergunta: Como você encara tudo
isso? Você vê o copo meio vazio ou meio cheio? Ser pessimista ou otimista
– prefiro a palavra ser esperançoso – em relação à vida é
amplamente determinado pela maneira como nosso cérebro funciona e de
como é influenciado por nossos genes. Sendo assim, como podemos
construir uma abordagem equilibrada para todos os tipos de situações que
possam surgir?
Ser constantemente otimista não é
o ideal, porque se, por exemplo, não reconhecermos o perigo inerente a uma
situação particular, podemos ter problemas. Por outro lado, também
não é bom ser sempre pessimista. Precisamos aprender a conectar essas duas
tendências de maneira equilibrada, como o positivo e o negativo em um sistema
elétrico. Se olharmos em profundidade, descobriremos que dentro de todo
pessimista também há um pouco de otimismo e vice-versa. Estudos mostram
que pessoas otimistas tendem a se concentrar no progresso e crescimento,
enquanto os pessimistas se preocupam principalmente com a confiança e a
estabilidade, tomando cuidado para não tomar ações arriscadas. A combinação certa
das duas tendências pode nos mover para frente com confiança e
segurança de forma ideal.
Para atualizar nossa perspectiva de vida,
precisamos nos conectar com diferentes tipos de pessoas. Considere o seguinte:
não apenas temos dois olhos, mas nosso cérebro também é dividido em dois. A
combinação de opostos é necessária para construir um sistema de trabalho
completo. Nos últimos anos, essa percepção foi internalizada nos campos da
ciência, tecnologia e várias outras inovações. Os projetos mais significativos
requerem um alto nível de integração.
Portanto, a autocrítica constante ou nos
torturarmos para mudar é inútil. É muito mais produtivo, ou proveitoso, se
concentrar no desenvolvimento de relacionamentos com outras pessoas, pois
isso revela muito de nós mesmos. Em tal realidade onde estamos nos tornando
cada vez mais dependentes uns dos outros por necessidade, somente se nos
complementarmos com garantia mútua, poderemos construir um sistema estável que
irá garantir que a humanidade não imploda e vá para a sua ruína – algo que
aprendemos a duras penas na pandemia Covid-19.
Um dos desafios da nossa época é
aprender a manter a diferença e a singularidade de cada indivíduo, ao
mesmo tempo em que construímos laços e estabelecemos vínculos com
outras pessoas sem querer enquadra-las em nosso padrão. Tal processo
abrirá para nós, em nós emoções novas, integrais, complementares e
compartilhadas, que brotará uma nova dimensão de existência, que
é unidade na diversidade. Desta maneira, a melhor resolução
de um Ano Novo é avançarmos para uma conexão mais estreita uns
com os outros e, sobretudo, com nós mesmos, pois a maneira como lidamos
conosco refletirá no modo de agir com o outro.
Daniel Lima Gonçalves - Psicanalista, Filósofo e Teólogo.
daniellimagoncalves.pe@gmail.com
Membro do Grupo Brasileiro de Pesquisas Sándor Ferenczi – GBPSF; Membro
da International Sándor Ferenczi Network – ISFN; Estudo Permanente
em Psicanálise no Instituto Nebulosa Marginal - INM; Especialista
em Psicanálise e Teoria Analítica – FATIN; Especialista em
Filosofia e Autoconhecimento – PUCRS; Extensão em Certificação
Profissional em Neurociências – PUCRS; Pós-graduando em Ciências
Humanas – PUCRS; Cursando Formação na clínica psicanalítica
com adultos – CPPLRecife.
Comentários
Postar um comentário