A psicanálise é o único método
para alívio do sofrimento mental e angústias? Podemos pensar que sim, mas, no
fundo, isso é um sintoma da psicanálise, porque ela não é o único método para o
sujeito se deparar consigo mesmo, até porque a cura em psicanálise tem a ver
com a possibilidade de admitir e não com a retirada do sintoma, porém existem
outros meios que podem conduzir o sujeito a uma vida mais ou menos confortável
dentro da sua condição. O processo analítico poderia ser algo para todo mundo,
mas não, ela não é para todo mundo, pelo simples fato de que muitas pessoas não
conseguem suportar essa entrada em análise, esse processo é difícil e requer uma
combinação de fatores para que se possa sustentar esse desejo minimamente. Dito
de outra maneira, não é todo mundo que vai gostar de fazer psicanálise, porque
nem todo mundo se identifica com o processo analítico. Sendo assim, antes de
ingressar em uma sessão psicanalítica, é preciso saber que as construções de
tempo e de espaço diferem, os objetivos não são imediatos e palpáveis. Então,
quando se procura a psicanálise é preciso estar disposto a pensar
verdadeiramente sobre sua vida e seu lugar no mundo, pois se entra em contato
com pensamentos e desejos que, por vezes, a consciência não consegue
tolerar.
Se você está disposto a falar
sobre si, a refletir sobre sua existência, colocar em questão suas escolhas,
impasses, inibições, ser escutado e se escutar ao invés de ficar obedecendo
submissamente a ordens externas, fazer psicanálise pode lhe ajudar nestes
processos. Fazer psicanálise não é como conversar com qualquer pessoa (parentes
e amigos), é conversar de tal maneira que em falando, a pessoa consegue se
escutar e, em mostrando-se para o outro, a pessoa consegue se enxergar. Muitas
pessoas não suportam a experiência psicanalítica, mas existem outras formas de
cuidado na saúde mental. Psicanálise, é para você se escutar e consequentemente
autoconhecimento, mas este não é o fim último.
A proposta da psicanálise é
ajudar a pessoa a se entender, não no sentido de conhecer-se por completo, mas
sim, discernir as motivações inconscientes dos comportamentos, discernir as
fantasias que estão por trás das relações, sintomas, mal-estar, etc. Mas
discernir para quê? Por quê? Discernir para tomar as atitudes, escolher os seus
próprios caminhos e assim fazer os percursos que deseja. Até porque o sujeito
já está realizando o seu desejo inconsciente quando procura o/a psicanalista,
mas realizando de maneira que a pessoa não reconhece e sofre com isso porque
não sabe para qual caminho está indo. Então, é comum esperar que alguém venha e
diga o caminho, ou o que se deve fazer. Repito, na psicanálise o psicanalista
ajuda a pessoa a se escutar e isso até mesmo quando a pessoa traz a sensação de
estar perdido, porque esta sensação, na verdade, pode ser um estar fugindo do
seu desejo, fugindo de si mesmo e, a psicanálise possibilita o reencontrar-se,
reconciliar-se consigo mesmo.
Na psicanálise não tem
enunciação de diagnósticos, ou seja, o sujeito não sairá de uma sessão dizendo
que é borderline, depressão, etc., isto cabe ao médico psiquiatra. Numa sessão
de análise o indivíduo perceberá que suas queixas e demandas são apenas a
superfície, a ponta do iceberg. Portanto, a psicanálise é fundamentalmente um
ambiente criado para você poder efetivamente se escutar. Nós só nos escutamos
falando para outra pessoa que, diferente de familiares e amigos, faz silêncio e
nos devolve aquilo que nós mesmos enunciamos. Desta maneira, o psicanalista não
fica trocando ideias, mas está ali como testemunha de um discurso que está
sendo exposto e retorna para quem fala, de modo que possa se escutar. Finalizo
com uma frase de Rubem Alves no livro “ostra feliz não faz pérola”: “Consulte
sempre um advogado. Você tem direitos. Consulte sempre um psicanalista. Você
tem avessos”.
Daniel Lima, Psicanalista.
www.psicanalisedaniellima.blogspot.com
daniellimagoncalves.pe@gmail.com
@daniellima.pe
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