“A psicanálise não pode ser nada além de uma longa viagem. A destinação (como destino) importa menos que as paisagens percorridas”.
(Radmila Zygouris)
A psicanálise é o único modo de aliviar o sofrimento mental e angústias? Podemos cogitar que sim, mas, em essência, isso é um sintoma da própria psicanálise, pois não é a única abordagem para um indivíduo confrontar-se consigo mesmo. Enquanto a cura em psicanálise está ligada à capacidade de admitir, e não à simples remoção do sintoma, existem outras vias para proporcionar ao sujeito uma vida relativamente mais confortável dentro de suas limitações. O processo analítico poderia ser acessível a todos, porém não é, pois muitos não conseguem suportar essa profunda jornada interior, um processo que exige uma combinação de fatores para sustentar este desejo de autoconhecimento. Em outras palavras, a psicanálise não agradará a todos, pois nem todos se identificam com o processo analítico. Portanto, antes de iniciar uma sessão psicanalítica, é essencial entender que as concepções de tempo e espaço divergem, e os objetivos não são imediatos ou tangíveis. Ao buscar a psicanálise, é crucial estar preparado para refletir honestamente sobre sua vida e posição no mundo, pois você entrará em contato com pensamentos e desejos que a consciência, por vezes, encontra difícil tolerar.
Se você está disposto a introspectar-se, a analisar sua existência e questionar suas escolhas, impasses e inibições, ser escutado e ouvir a si mesmo, em lugar de seguir submissamente comandos externos, a psicanálise pode ser um recurso valioso. Fazer psicanálise não é como conversar com qualquer pessoa (familiares e amigos); trata-se de dialogar de forma que, ao falar, você possa escutar-se, e ao apresentar-se ao outro, consiga enxergar-se. Apesar de muitas pessoas acharem a experiência psicanalítica extenuante, existem diversas alternativas para o cuidado da saúde mental. A psicanálise visa promover a autoescuta e, consequentemente, o autoconhecimento, mas este não é seu fim por excelência.
A proposta da psicanálise é auxiliar o indivíduo a compreender-se, não no sentido de conhecer-se integralmente, mas sim em discernir as motivações inconscientes dos comportamentos, entender as fantasias subjacentes às relações, sintomas, e mal-estares. Mas discernir para quê? Para tomar decisões, escolher seus próprios caminhos e traçar as jornadas que deseja. Afinal, ao procurar um psicanalista, o sujeito já realiza seu desejo inconsciente, embora de forma não reconhecida, o que gera sofrimento por não saber qual direção está tomando. Por isso, é comum esperar que alguém indique o caminho ou o que deve ser feito. Repito: na psicanálise, o profissional ajuda o sujeito a escutar-se, inclusive quando ele sente-se perdido, pois essa sensação pode, na verdade, indicar uma fuga do próprio desejo, do próprio eu. A psicanálise proporciona a possibilidade de reencontrar-se, de reconciliar-se consigo mesmo.
Na psicanálise não há ênfase em diagnósticos; o sujeito não sairá de uma sessão rotulado como borderline, depressivo, etc., função essa que cabe ao psiquiatra. Em uma sessão de análise, o indivíduo perceberá que suas queixas e demandas são apenas a superfície, a ponta do iceberg. Assim, a psicanálise se constitui fundamentalmente como um espaço onde você pode efetivamente escutar-se. Escutamos a nós mesmos ao falar para outra pessoa que, diferente de familiares e amigos, oferece silêncio e reflete aquilo que enunciamos. Dessa forma, o psicanalista não troca ideias, mas atua como testemunha de um discurso exposto, que, ao retornar ao falante, possibilita a autoescuta.
Concluo com uma frase de Rubem Alves no livro “Ostra feliz não faz pérola”: “Consulte sempre um advogado. Você tem direitos. Consulte sempre um psicanalista. Você tem avessos”.
Daniel Lima
Psicanalista.
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