A Magia do Natal e Seus Efeitos Psíquicos

O Natal é vivenciado como um momento de renovação das esperanças, especialmente em um ano atípico como este, em meio à pandemia de COVID-19. Como lidar com isso? Alguns aguardam ansiosamente este período festivo, enquanto outros não apreciam o sentido familiar e as festividades comerciais que o Natal adquiriu ao longo dos anos. É fundamental entender os motivos e efeitos psíquicos gerados nesse período natalino.

Há pessoas que aproveitam esse tempo para se reconciliar e resolver pendências emocionais com amigos e familiares, como se a data proporcionasse uma espécie de recomeço, um renascimento. Independentemente das crenças, o Natal é tradicionalmente associado a momentos de encontros, viagens, férias e festas. Esta época de confraternização e descanso muitas vezes sobrepõe o verdadeiro significado religioso do Natal.

Há consenso de que o Natal é uma época de paz, alegria, amor e gratidão. Esse espírito motiva a criação de bons momentos para nós mesmos e para aqueles com quem convivemos. Os esforços para isso são inúmeros: presentes, enfeites, luzes, ceia de Natal, entre outros, tudo visando preservar este período como um tempo feliz, tal como a célebre canção "Noite Feliz".

Para a psicanálise, esse comportamento faz parte da pulsão de vida, definida por Freud como inerente à natureza amorosa e aos vínculos sociais. Somos impulsionados a nos relacionar como seres sociais. As oportunidades de reuniões familiares e fraternas alimentam a natureza social do ser humano e fortalecem os laços. Além disso, há tensões geradoras de angústias, e o Natal pode servir como um momento para atender ao princípio do prazer. Segundo Freud, o princípio do prazer, em oposição ao princípio da realidade, é a atividade psíquica que busca evitar o desprazer e proporcionar prazer através da descarga de tensões.

Muitas pessoas veem o Natal como uma oportunidade para sair do ambiente de trabalho, reduzir o estresse e aliviar as irritações diárias, descarregando assim as tensões acumuladas durante todo o ano.

Caso o Natal não existisse, provavelmente encontraríamos outras formas sociais de satisfazer essas necessidades psíquicas que regem a mente humana. Este Natal será bastante diferente devido à pandemia. 2020 é como uma caixa de Pandora! Na mitologia grega, a caixa de Pandora continha todas as desgraças do mundo, como doenças do corpo e da alma, guerra e discórdia; contudo, no fundo, restou um antídoto para as aflições da humanidade: a esperança.

Aproveitar o Natal é muito mais do que uma celebração; o significado social e psíquico desta festa é importante para marcar o fechamento de ciclos e o início de novas etapas da vida.

Daniel Lima

Psicanalista

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Psicanálise, uma possível cura pelas palavras

“A psicanálise? Uma das mais fascinantes modalidades do gênero policial, em que o detetive procura desvendar um crime que o próprio criminoso ignora.” (Mario Quintana) Recentemente, escrevi sobre “a psicanálise e o processo analítico em poucas palavras”, onde ressalto que a proposta da psicanálise é auxiliar o indivíduo a se entender, não no sentido de alcançar um conhecimento completo sobre si mesmo, mas sim, de discernir as motivações inconscientes por trás dos comportamentos, das fantasias que permeiam as relações, dos sintomas, do mal-estar, etc. Na psicanálise, o analista ajuda o indivíduo a escutar-se, mesmo quando este traz a sensação de estar perdido. Esse sentimento, na verdade, pode indicar uma fuga do próprio desejo, do próprio eu, e a psicanálise possibilita o reconcilio consigo mesmo. No entanto, neste texto, pretendo abordar brevemente o processo que chamamos de "cura pelas palavras". O conflito do recalque Freud, ao investigar os sintomas corporais através da l...

O carnaval como metáfora dos ciclos da experiência humana na psicanálise

O carnaval é uma festividade que marca o início e o término de um ciclo na cultura brasileira. Mas o que esse ciclo significa do ponto de vista psicanalítico? Este texto explora como a psicanálise, ao desbravar os profundos meandros da mente humana, fornece uma lente única para compreendermos a metáfora do início e término do carnaval como ciclos da experiência humana. Para Freud, o fundador da psicanálise, a mente humana é composta por três instâncias: o id, o ego e o superego. O id é a parte mais primitiva e inconsciente da personalidade, que busca a satisfação imediata dos impulsos biológicos e psíquicos, seguindo o princípio do prazer. O ego, por sua vez, é a parte racional e consciente da personalidade, que busca o equilíbrio entre os desejos do id e as exigências da realidade externa, seguindo o princípio da realidade. Finalmente, o superego é a parte moral e crítica da personalidade, que representa os valores e normas sociais internalizados pelo indivíduo. O carnaval pode ser vi...

Solidão

"A solidão é fera, a solidão devora. É amiga das horas, prima-irmã do tempo, E faz nossos relógios caminharem lentos, Causando um descompasso no meu coração." — Alceu Valença, Solidão Em um mundo onde a comunicação se tornou tão acessível, paradoxalmente, o isolamento social parece cada vez mais presente. A tecnologia e a expansão dos meios de comunicação nos seduzem com a promessa de eliminar os limites entre o eu e o outro. Embora a internet nos mantenha constantemente conectados, oferece uma falsa segurança de que nunca estaremos sós, mas na verdade, muitas vezes nos liga ao vazio. O Dicionário Larousse Cultural define a solidão como um estado de quem está só, com origens no latim solitudo , significando isolamento e ausência de relações sociais. Filosoficamente, é um componente inexorável da existência humana. A psicóloga clínica Cristiana Pereira explica que, apesar de universal, a solidão é complexa e única para cada indivíduo, não tendo uma única causa comum. Po...

Psicanálise Daniel Lima

Pesquisar este blog