
A depressão, quando ocasional, é vivenciada por enlutados e por pessoas que passaram por perdas. Neste momento, é importante que a pessoa, gradualmente, se desligue e passe a investir em outras áreas. Caso contrário, o processo pode se tornar patológico, levando a pessoa a sentir que não há mais sentido em viver sem o que perdeu, uma vez que partes de si foram perdidas junto. É aí que se vive a melancolia.
Indivíduos obsessivos experimentam depressão por desperdiçarem suas vidas tentando atender às expectativas dos outros, sacrificando-se e nunca satisfazendo seus próprios desejos. Eles são frequentemente muito cruéis consigo mesmos, concentrando-se em pequenos detalhes insignificantes e procrastinando o tempo que poderiam investir em outras coisas. Assim, vivem a dor de sentir que estão sempre perdendo ou faltando algo.
Outro perfil é o das pessoas histéricas, que podem vivenciar a depressão diante da perda do amor ou porque não se sentem suficientemente amadas, independentemente do que façam.
No caso dos indivíduos com transtorno borderline, a depressão pode ocorrer com oscilações entre depressão e euforia. Dessa forma, a maneira como essas pessoas se relacionam com os outros é comprometida, pois ora o outro é tudo, ora não é nada. A vida parece carente de sentido, e isso só é parcialmente remediado com a presença de um objeto de apoio.
Em todas as estruturas e em quaisquer pacientes, a vivência da depressão remete a um sentimento de decaimento de si mesmo, sem que haja uma sensação de proteção à altura. A depressão tem uma relação íntima com o tempo; é necessário tempo para que o psiquismo processe as experiências emocionais, reconstruindo e reorganizando questões internas. Isso vai completamente contra o excesso de velocidade em que vivemos atualmente.
Portanto, pensar na depressividade como um estado temporário de "fechado para balanço", algo positivo e de potencial crescimento psíquico, é necessário. Afinal, dores podem nos ensinar muito, e nem todas devem ser mascaradas. Devemos evitar a tendência de tentar "animar" alguém deprimido, pois a depressão pode funcionar como um "sono de hibernação". Elaborar a dor tem a função de construir, dentro de si mesmo, um abrigo e refúgio seguros. Por isso, é crucial elaborar os limites, as faltas e a dor do desamparo.
Daniel Lima
Psicanalista
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