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Suicídio, uma questão de saúde pública

         

 

O suicídio não está relacionado à coragem – ou à falta dela – para enfrentar a vida, mas sim a um sofrimento psíquico intenso que deixa a pessoa presa em um estado de desesperança, onde a morte parece ser a única maneira de aliviar uma dor insuportável. O suicídio figura entre as três principais causas de morte em pessoas de 15 a 44 anos, e tratar o tema como tabu pode prejudicar ações preventivas. É crucial falar sobre isso abertamente. A cada 40 segundos, alguém tira a própria vida, totalizando quase 800 mil pessoas por ano no mundo, com mais de 75% dos casos ocorrendo em países de baixa e média renda. Assim, o suicídio é uma preocupação global e um problema sério de saúde pública, mas é uma condição que pode ser evitada.

O Suicídio é Multifatorial

É fundamental reconhecer que o suicídio é multifatorial, ou seja, não possui uma causa única. Fatores culturais, sociais, psicológicos, psiquiátricos, biológicos e econômicos, inter-relacionados, podem desencadear o suicídio. Pensamentos suicidas podem estar associados a diversos problemas de saúde mental, como transtorno afetivo bipolar e esquizofrenia, além das questões já mencionadas. É uma condição sempre multifatorial! Pessoas com depressão não são as únicas a pensar em suicídio ou a morrer por ele. Cerca de 5 a 10% das pessoas com depressão pensam em suicídio. Pensar uma vez em suicídio não significa necessariamente um problema, mas quando esses pensamentos se tornam mais fortes e constantes, vendo a morte como solução, é hora de buscar ajuda.

Ideação Suicida

Entre a ideação suicida, que é quando se pensa em se matar, e o suicídio consumado, onde a morte realmente ocorre, pode haver etapas de planejamento e tentativa. Nesses casos, a pessoa pensa na forma de executar e passa a buscar meios para concretizar a ideia. É importante não julgar qualquer comportamento, mas sim agir e ajudar quem está nesse estado de desespero e angústia. Sentimentos de desesperança e isolamento podem transformar pensamentos suicidas em ações. É crucial que façamos tudo ao nosso alcance para evitá-lo. À medida que trabalhamos para um mundo onde menos pessoas percam a vida por suicídio, acreditamos que uma possibilidade é criar esperança por meio da ação com uma mensagem acolhedora que inspire confiança para se envolver com este complexo assunto.

A Necessidade de Ajuda

Reconhecer os sinais que indicam quando alguém precisa de ajuda e compreender os fatores que podem motivar o suicídio é essencial para desenvolver programas de prevenção eficazes e estruturar políticas públicas. Criar esperança através da ação significa a determinação de transmitir um novo senso de propósito — capacitar e equipar as pessoas com habilidades e confiança para se conectar com alguém que elas acham que pode estar lutando. Importante também são ações em escolas e suporte para famílias, além de serviços de saúde mental abrangentes, controle de métodos potencialmente letais (como armas de fogo, agrotóxicos, medicamentos), até a promoção de um ambiente mais seguro e livre de violência, sendo fundamentais para estratégias de prevenção mais eficazes.


Daniel Lima
Psicanalista

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