"Se você odeia alguém, é porque odeia alguma coisa nele que faz parte de você. O que não faz parte de nós, não nos perturba."
(Hermann Hesse)
O BBB21 (Big Brother Brasil, 21) trouxe à tona a discussão sobre a "cultura do cancelamento", um tema anteriormente restrito às redes sociais que agora ganhou visibilidade na televisão brasileira. Este assunto foi debatido pelos participantes durante a primeira interação do grupo, quando compartilharam suas experiências nas redes sociais e o medo de serem "cancelados" na internet. A questão ganhou tanta repercussão, dentro e fora da casa, que foi escolhida como tema para a dinâmica do jogo da discórdia do programa. O BBB, em essência, já é um jogo de resistir a exclusões, "cancelamentos" e os famosos paredões, e provoca identificação em muitos telespectadores com alguns participantes, de maneira negativa ou positiva — dependendo da história de cada um, eles começam a se ver nos participantes.
Esse movimento conhecido como "cultura do cancelamento" tem atraído cada vez mais atenção e tem sido tema de diversos debates. Na coluna da semana passada, mencionei que esse fenômeno surgiu há alguns anos como uma maneira de julgar e repreender atitudes consideradas condenáveis de pessoas que, em sua maioria, têm imagem pública. É interessante notar que muitos dos cancelamentos no Big Brother também serviram para destacar questões que merecem ser discutidas, o que é importante porque não podemos apenas cancelar o cancelamento; é preciso escutar, entender, pensar e dialogar sobre as divergências. A cultura do cancelamento pode ser resumida no "não acertou, então joga fora", a mentalidade do "ou é isso ou é aquilo". Que tal substituir o "cancelamento" por diálogo? Cancelar por cancelar é um tipo de violência, algo que chega a ser desumano. Se o cancelar fosse utilizado para provocar uma crítica social, seria uma forma de avançarmos como coletivo.
Seria apropriado refletir sobre ambos os lados: tanto de "quem cancela" quanto do "cancelado". Isso revela que o sofrimento existe nas duas partes; pessoas habituadas a "bater" geralmente vêm de um histórico onde isso é normalizado, enquanto quem "apanha" sofre pelas consequências desse ciclo não saudável. Portanto, para refletirmos melhor sobre isso, é necessário fazermos algumas perguntas. Quanto de você existe naquilo que você odeia? Por que existe tanto ódio pelas imperfeições, falhas e limitações dos outros? Por que buscamos incessantemente por uma pessoa perfeita para não cancelarmos e suprirmos todas as faltas que outras pessoas deixaram? Isso é um sofrimento, é crucial entender todo esse "ódio" e como está a saúde mental desse indivíduo, reconhecendo que todos nós temos uma história marcada por diversos acontecimentos que influenciam nossas ações hoje. Entretanto, é importante ressaltar que somos responsáveis pelos conteúdos que produzimos. Afinal, é crucial que todas as ideias publicadas e compartilhadas, embora antagônicas, respeitem os direitos humanos. Portanto, por menos cancelamentos vazios e mais consequências reais pelos nossos atos.
Daniel Lima
Psicanalista
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