Como psicanalista, vejo na clínica diária um dos sofrimentos mais intrigantes e profundos: aquele em que o próprio sujeito parece empenhado em voltar-se contra si mesmo. Este não é um desejo simples de desaparecer, mas uma compulsão ativa, muitas vezes silenciosa, que mina a própria vitalidade. Desde Freud, compreendemos que há algo em nossa vida psíquica que escapa à simples lógica do prazer. Em Além do Princípio do Prazer (1920), ele nos apresentou a ideia da pulsão de morte – uma tendência inconsciente, inerente à vida, que busca um retorno à quietude absoluta, ao inorgânico. Em meu trabalho, vejo esta força se manifestar não como um evento único, mas como um processo sutil e corrosivo: na autossabotagem que frustra o progresso, na repetição de escolhas dolorosas e, de forma mais aguda, nos impulsos que parecem desafiar o instinto de preservação. Em minha escuta, percebo que este movimento nunca acontece isoladamente. No modelo estrutural freudiano, que tanto ilumina minha prá...