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A Saúde Mental Esteve em Foco no Enem

 


Se existe algo de normal em nossas vidas, talvez seja esta loucura de querermos tanto ser ou parecer normais.” 

(Lúcio Packter, Sistematizador da Filosofia Clínica)

 

No último domingo o ministro da Educação, Milton Ribeiro, divulgou logo após o início da aplicação da primeira prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), qual o tema da redação: “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”. Foram milhões de pessoas escrevendo sobre saúde mental. A palavra estigma significa marca, para identificar algo negativo. Este preconceito contra os padecentes de doenças mentais se chama psicofobia. O estigma de transtornos psiquiátricos acaba sendo uma herança de um Brasil onde existiam manicômios e reforçado por um mercado de trabalho que ignora as emoções. 

As pessoas com transtornos podem reforçar o estigma, o que acaba sendo um grande problema, pois o indivíduo passa a acreditar nele, se sentir fraco e uma pessoa pior. Desta maneira, ele vai se isolando e isso acaba contribuindo para agravar o quadro e, então, vão procurar ajuda no estágio mais agravado. Saber o que sentimos ou por que  sentimos e saber de onde vem nossas inquietudes,  é a melhor maneira de entendermos e aprendermos a lidar com nossas frustações, ansiedades, medos, desejos, insatisfações gerais, sentimentos diversos e contraditórios que estão acumulados em nossa mente, pulsando e influenciando nosso comportamento. 

É importante ressaltar que estamos no meio de uma luta contra a pandemia Covid-19,  que pode não estar tão perto do seu fim. Segundo estudos realizados pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), existe um sério comprometimento mental e que consequentemente,  reduz a qualidade de vida dos recuperados da doença. Acredita-se que a saúde mental pode sofrer impactos severos, devido ao isolamento do paciente,  durante a internação em que o paciente fica privado de visitas familiares e, em alguns casos, sem contato por celular com os entes familiares  e amigos. Os impactos no estado emocional com sintomas de ansiedade e depressão, além de sintomas clínicos. A pesquisa ainda não está concluída, então, ainda não sabemos a dimensão desse impacto de forma concreta, mas estejamos em alerta para os principais sintomas que altera humor, pensamento e comportamento. 

Precisamos pensar a saúde mental de uma perspectiva preventiva, não apenas como doença. Há uma espécie de analfabetismo em relação ao sofrimento psíquico. É necessário ter conhecimento das questões emocionais, porque elas são decisivas na vida, e isso reduz o estigma. Afinal, sem saúde mental não há paz, não há sossego, não há harmonia nas relações e nem energia para cuidar das coisas da vida da gente e da vida de quem amamos. Portanto, precisamos investir em nossa Saúde Mental, pois assim estaremos investindo em tudo aquilo que nos move, nos sustenta e nos capacita para uma vida saudável, plena e cheia de realizações e de tudo aquilo que o ser humano, conforme a sua singularidade, merece e é capaz de conquistar. Então, cuidemos da nossa saúde como um todo!

 

Daniel Lima Gonçalves - Psicanalista, Filósofo e Teólogo.

daniellimagoncalves.pe@gmail.com

Membro do Grupo Brasileiro de Pesquisas Sándor Ferenczi – GBPSF; Membro da International Sándor Ferenczi Network – ISFN; Estudo Permanente em Psicanálise no Instituto Nebulosa Marginal - INM; Especialista em Psicanálise e Teoria Analítica – FATIN; Especialista em Filosofia e Autoconhecimento – PUCRS; Extensão em Certificação Profissional em Neurociências – PUCRS; Pós-graduando em Ciências Humanas – PUCRS; Cursando Formação na clínica psicanalítica com adultos – CPPLRecife.

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