Quando Schopenhauer afirma que vivemos “entre a ânsia de ter e o tédio de possuir”, ele não está apenas fazendo uma observação sobre nossos caprichos cotidianos. Está descrevendo algo mais profundo: uma condição ontológica enraizada naquilo que ele chama de “vontade” — uma força metafísica cega, inesgotável, que pulsa em todo ser vivo como impulso de continuar, de querer, de afirmar-se no mundo. Essa vontade não é um desejo pontual por este ou aquele objeto; é a própria estrutura que nos atravessa e nos constitui. A ânsia, nesse sentido, revela uma inquietação que vai além da simples falta de algo específico — é a marca de uma existência movida por uma força que jamais encontra repouso definitivo. E o tédio de possuir? Longe de ser mero aborrecimento passageiro, surge como consequência inevitável: quando a vontade se satisfaz, depara-se apenas com um vazio de sentido, pois a posse de objetos transitórios jamais interrompe a cadeia do querer. Pensar essa dialética exige levar a sério a ...