I. O paradoxo inaugural: formar-se para o impossível
No campo das profissões, a formação do psicanalista ocupa um lugar singular – e intrinsecamente inquietante. Diferentemente de médicos, advogados ou engenheiros, cuja habilitação se dá por diplomas, estágios e provas de competência técnica, o psicanalista não se constitui pela mera acumulação de conhecimentos nem pela chancela de uma instituição acadêmica. Freud, em um gesto de lucidez radical, nomeou a psicanálise como uma das “profissões impossíveis”, lado a lado com educar e governar. Essa impossibilidade não significa que seja irrealizável, mas sim que se funda numa limitação estrutural: a de dominar o inconsciente, de antecipar o que se passa no outro, de controlar os efeitos da própria presença.
Paradoxalmente, essa impossibilidade não é um obstáculo, mas a própria condição ética da prática. O analista molda-se no reconhecimento de que não existe saber absoluto sobre o sofrimento humano, de que cada sujeito é um enigma irredutível a protocolos pré-estabelecidos. Assim, a formação analítica transcende a capacitação técnica, configurando-se como uma travessia subjetiva — um trabalho contínuo de transformação de si mesmo em instrumento de escuta, de presença e de sustentação do vazio.
Se a psicanálise não se ensina como anatomia ou direito civil, como alguém, então, se torna psicanalista? A resposta, embora complexa, repousa sobre um tripé conceitual e vivencial que, desde Freud, estrutura sua transmissão: análise pessoal, estudo teórico e supervisão clínica. Esses três pilares não são etapas sequenciais, mas dimensões indissociáveis de um mesmo processo — um processo que, rigorosamente, nunca termina.
II. O tripé freudiano: a estrutura ética da formação
1. Análise pessoal: o laboratório do inconsciente
O primeiro e mais incontornável pilar da formação é a análise pessoal. Longe de ser uma terapia convencional, ainda que possa gerar efeitos terapêuticos, trata-se de um laboratório existencial onde o futuro analista se confronta com suas próprias neuroses, fantasias, pontos cegos e resistências. É no divã que ele experimenta, na própria carne, o que significa defrontar-se com o inconsciente — aquilo que não se domina, que insiste, que retorna.
Essa experiência é condição sine qua non para o exercício da clínica. Sem atravessar a própria análise, o analista corre o risco de projetar seus conflitos sobre o paciente, de preencher com suas certezas o espaço que deveria ser de escuta, ou de recuar diante da angústia por não ter suportado a sua própria. A análise pessoal não garante uma “cura” definitiva — o inconsciente é, por definição, indomável —, mas capacita o analista a desenvolver uma relação menos defensiva com o que, em si mesmo, resiste à simbolização.
A duração dessa análise não pode ser predeterminada por cronogramas institucionais. Ela é lógica, não cronológica: conclui-se quando algo se desloca na economia psíquica do sujeito, quando uma travessia fundamental se opera. Qualquer tentativa de fixar um tempo — dois, cinco anos — desconsidera a singularidade do processo e reproduz a lógica burocrática que a psicanálise, desde sua origem, busca subverter.
2. Estudo teórico: o rigor do pensamento
O segundo pilar é o estudo teórico, que demanda do candidato a analista um mergulho profundo e contínuo na obra freudiana e nos desdobramentos posteriores da psicanálise: Lacan, Klein, Winnicott, Bion, Green, Ferro, Ogden, entre tantos outros. Contudo, o estudo não se restringe ao campo psicanalítico. Desde Freud, a psicanálise dialoga com a filosofia, a literatura, a arte, a antropologia e a linguística. Esse diálogo é constitutivo: pensar o sujeito implica pensar a cultura, a linguagem, o desejo e a morte.
O estudo teórico não visa a um acúmulo enciclopédico de conceitos, mas sim a um trabalho de pensamento ativo. A teoria orienta a clínica, oferece referências, nomeia fenômenos e auxilia a suportar a perplexidade diante do singular. Sem ela, o analista ficaria à mercê de suas próprias reações emocionais, sem uma bússola para navegar na transferência, na contratransferência, no campo intersubjetivo que se forma na sessão.
No entanto, a teoria também pode se tornar um obstáculo. Quando utilizada defensivamente, como escudo contra a angústia ou como um manual de interpretações prontas, ela impede a escuta genuína. Por isso, o estudo teórico deve ser acompanhado de análise pessoal e supervisão — permitindo que o analista discerna quando está pensando com o paciente e quando está apenas defendendo-se dele.
3. Supervisão clínica: o espaço da transmissão e do contrato
O terceiro pilar é a supervisão clínica (ou análise de controle), um espaço essencial onde o analista em formação discute seus casos com um profissional mais experiente. A supervisão não é um tribunal de julgamento, mas um fórum de elaboração. É ali que se refinam intervenções, questionam-se manejos e identificam-se pontos cegos — aqueles lugares onde o analista falha na escuta porque algo de si mesmo está em jogo.
A supervisão é, igualmente, um espaço de transmissão: não de técnicas predefinidas, mas de uma postura ética. O supervisor não dita “como fazer”, mas auxilia o supervisionando a pensar o que está em jogo naquele caso específico, em sua singularidade irrepetível. É um exercício de co-pensamento, onde a experiência clínica é elaborada em palavras, conceitos e silêncios.
Esse pilar é crucial porque a clínica psicanalítica é um ofício intrinsecamente solitário. O analista trabalha sem equipe, sem protocolos padronizados. A supervisão é o que impede que essa solidão se transforme em isolamento, que o analista se perca em suas próprias certezas ou se paralise diante de suas dúvidas.
III. A questão da autorização: quem legitima o analista?
No Brasil, a psicanálise não é uma profissão regulamentada. Não há conselho federal, exigência de diploma universitário ou exame de ordem. Essa abertura legal gera debates intensos. Por um lado, permite que a psicanálise preserve sua autonomia diante do Estado e de lógicas burocráticas. Por outro, abre espaço para o que se convencionou chamar de pseudoformações: cursos rápidos, certificados de fim de semana, formações online desprovidas de análise pessoal e supervisão.
A questão central é: o que, de fato, autoriza alguém a se intitular psicanalista? A resposta lacaniana é célebre: “o analista só se autoriza de si mesmo”. Essa frase, tantas vezes mal compreendida, não é um convite ao autodidatismo irresponsável. Ela aponta para uma responsabilidade radical: ninguém pode delegar a outro — nem a uma instituição, nem a um diploma — a decisão de ocupar o lugar de analista. Essa decisão é ética, sustentada pelo percurso singular de cada um, pelo engajamento efetivo no tripé formativo e pelo reconhecimento de que a formação jamais se completa.
Lacan propôs o dispositivo do passe como uma alternativa à legitimação institucional tradicional. No passe, o candidato testemunha, diante de passadores (analisandos que ocupam uma posição intermediária), sua travessia analítica, os momentos de virada em sua análise e o que o autorizou a ocupar o lugar de analista. Esse dispositivo, controverso e complexo, busca formalizar a autorização sem burocratizá-la, reconhecendo que, embora haja algo de intransmissível na experiência analítica, essa intransmissibilidade necessita encontrar formas de circulação e validação coletiva.
No contexto brasileiro, instituições como a Sociedade Psicanalítica do Recife (SPRPE), filiada à International Psychoanalytical Association (IPA), mantêm estruturas formativas rigorosas, exigindo análise pessoal de alta frequência, supervisões prolongadas e estudo teórico sistemático. Outras correntes, de orientação lacaniana, organizam-se em escolas e cartéis, valorizando a transmissão horizontal e a produção de saber a partir da clínica. Em ambos os casos, o rigor ético é o que distingue uma formação séria de uma pseudoformação.
IV. Os desafios contemporâneos: aceleração, mercantilização e resistência
A formação do psicanalista, na contemporaneidade, enfrenta pressões inéditas. A lógica neoliberal permeia todos os espaços, transformando até mesmo a subjetividade em mercadoria. Desse cenário emergem “formações relâmpago”, cursos de psicanálise que prometem certificação em meses, pacotes de “especialização” que vendem títulos sem exigir análise pessoal. Essas ofertas, embora atendam à demanda de um mercado ansioso por credenciais, traem a essência da psicanálise.
A psicanálise é, por definição, lenta. Ela resiste à aceleração, ao imperativo de eficiência e à lógica do resultado imediato. Formar-se analista exige tempo — tempo para analisar-se, tempo para estudar, tempo para errar e retomar na supervisão. Exige, igualmente, paciência com o não saber, tolerância à incerteza e a disposição para habitar o vazio sem preenchê-lo com respostas apressadas.
Nesse panorama, as instituições psicanalíticas sérias assumem um papel de resistência. Não uma resistência nostálgica, que idealiza o passado, mas uma resistência ética, que sustenta a radicalidade da formação mesmo quando isso é impopular, mesmo quando não gera lucro imediato. Formar psicanalistas é formar sujeitos capazes de escutar o que a cultura não quer ouvir, de sustentar o que o mercado não valoriza.
V. Conclusão: formar-se é sustentar o inacabado
A formação do psicanalista jamais se conclui. Não há um ponto de chegada, um momento em que se possa afirmar: “agora sou analista, estou pronto”. A cada paciente, a cada sessão, algo é recolocado em questão. O analista forma-se — e transforma-se — na escuta, no encontro, no desamparo que cada caso singular produz.
Formar-se psicanalista é construir uma ética: a ética de sustentar o não saber, de habitar o limite, de resistir à tentação de oferecer certezas onde só pode haver a pergunta. É um trabalho de uma vida inteira — um ofício que se faz no divã (como analisando), nos livros (como estudante), na supervisão (como aprendiz) e na clínica (como aquele que escuta).
A psicanálise não se ensina nem se confere. Ela se transmite — de sujeito a sujeito, de inconsciente a inconsciente, na esperança silenciosa de que, ao se dizer, cada um possa encontrar novas formas de existir.
Daniel Lima | Psicanalista | @daniellima.pe
No campo das profissões, a formação do psicanalista ocupa um lugar singular – e intrinsecamente inquietante. Diferentemente de médicos, advogados ou engenheiros, cuja habilitação se dá por diplomas, estágios e provas de competência técnica, o psicanalista não se constitui pela mera acumulação de conhecimentos nem pela chancela de uma instituição acadêmica. Freud, em um gesto de lucidez radical, nomeou a psicanálise como uma das “profissões impossíveis”, lado a lado com educar e governar. Essa impossibilidade não significa que seja irrealizável, mas sim que se funda numa limitação estrutural: a de dominar o inconsciente, de antecipar o que se passa no outro, de controlar os efeitos da própria presença.
Paradoxalmente, essa impossibilidade não é um obstáculo, mas a própria condição ética da prática. O analista molda-se no reconhecimento de que não existe saber absoluto sobre o sofrimento humano, de que cada sujeito é um enigma irredutível a protocolos pré-estabelecidos. Assim, a formação analítica transcende a capacitação técnica, configurando-se como uma travessia subjetiva — um trabalho contínuo de transformação de si mesmo em instrumento de escuta, de presença e de sustentação do vazio.
Se a psicanálise não se ensina como anatomia ou direito civil, como alguém, então, se torna psicanalista? A resposta, embora complexa, repousa sobre um tripé conceitual e vivencial que, desde Freud, estrutura sua transmissão: análise pessoal, estudo teórico e supervisão clínica. Esses três pilares não são etapas sequenciais, mas dimensões indissociáveis de um mesmo processo — um processo que, rigorosamente, nunca termina.
II. O tripé freudiano: a estrutura ética da formação
1. Análise pessoal: o laboratório do inconsciente
O primeiro e mais incontornável pilar da formação é a análise pessoal. Longe de ser uma terapia convencional, ainda que possa gerar efeitos terapêuticos, trata-se de um laboratório existencial onde o futuro analista se confronta com suas próprias neuroses, fantasias, pontos cegos e resistências. É no divã que ele experimenta, na própria carne, o que significa defrontar-se com o inconsciente — aquilo que não se domina, que insiste, que retorna.
Essa experiência é condição sine qua non para o exercício da clínica. Sem atravessar a própria análise, o analista corre o risco de projetar seus conflitos sobre o paciente, de preencher com suas certezas o espaço que deveria ser de escuta, ou de recuar diante da angústia por não ter suportado a sua própria. A análise pessoal não garante uma “cura” definitiva — o inconsciente é, por definição, indomável —, mas capacita o analista a desenvolver uma relação menos defensiva com o que, em si mesmo, resiste à simbolização.
A duração dessa análise não pode ser predeterminada por cronogramas institucionais. Ela é lógica, não cronológica: conclui-se quando algo se desloca na economia psíquica do sujeito, quando uma travessia fundamental se opera. Qualquer tentativa de fixar um tempo — dois, cinco anos — desconsidera a singularidade do processo e reproduz a lógica burocrática que a psicanálise, desde sua origem, busca subverter.
2. Estudo teórico: o rigor do pensamento
O segundo pilar é o estudo teórico, que demanda do candidato a analista um mergulho profundo e contínuo na obra freudiana e nos desdobramentos posteriores da psicanálise: Lacan, Klein, Winnicott, Bion, Green, Ferro, Ogden, entre tantos outros. Contudo, o estudo não se restringe ao campo psicanalítico. Desde Freud, a psicanálise dialoga com a filosofia, a literatura, a arte, a antropologia e a linguística. Esse diálogo é constitutivo: pensar o sujeito implica pensar a cultura, a linguagem, o desejo e a morte.
O estudo teórico não visa a um acúmulo enciclopédico de conceitos, mas sim a um trabalho de pensamento ativo. A teoria orienta a clínica, oferece referências, nomeia fenômenos e auxilia a suportar a perplexidade diante do singular. Sem ela, o analista ficaria à mercê de suas próprias reações emocionais, sem uma bússola para navegar na transferência, na contratransferência, no campo intersubjetivo que se forma na sessão.
No entanto, a teoria também pode se tornar um obstáculo. Quando utilizada defensivamente, como escudo contra a angústia ou como um manual de interpretações prontas, ela impede a escuta genuína. Por isso, o estudo teórico deve ser acompanhado de análise pessoal e supervisão — permitindo que o analista discerna quando está pensando com o paciente e quando está apenas defendendo-se dele.
3. Supervisão clínica: o espaço da transmissão e do contrato
O terceiro pilar é a supervisão clínica (ou análise de controle), um espaço essencial onde o analista em formação discute seus casos com um profissional mais experiente. A supervisão não é um tribunal de julgamento, mas um fórum de elaboração. É ali que se refinam intervenções, questionam-se manejos e identificam-se pontos cegos — aqueles lugares onde o analista falha na escuta porque algo de si mesmo está em jogo.
A supervisão é, igualmente, um espaço de transmissão: não de técnicas predefinidas, mas de uma postura ética. O supervisor não dita “como fazer”, mas auxilia o supervisionando a pensar o que está em jogo naquele caso específico, em sua singularidade irrepetível. É um exercício de co-pensamento, onde a experiência clínica é elaborada em palavras, conceitos e silêncios.
Esse pilar é crucial porque a clínica psicanalítica é um ofício intrinsecamente solitário. O analista trabalha sem equipe, sem protocolos padronizados. A supervisão é o que impede que essa solidão se transforme em isolamento, que o analista se perca em suas próprias certezas ou se paralise diante de suas dúvidas.
III. A questão da autorização: quem legitima o analista?
No Brasil, a psicanálise não é uma profissão regulamentada. Não há conselho federal, exigência de diploma universitário ou exame de ordem. Essa abertura legal gera debates intensos. Por um lado, permite que a psicanálise preserve sua autonomia diante do Estado e de lógicas burocráticas. Por outro, abre espaço para o que se convencionou chamar de pseudoformações: cursos rápidos, certificados de fim de semana, formações online desprovidas de análise pessoal e supervisão.
A questão central é: o que, de fato, autoriza alguém a se intitular psicanalista? A resposta lacaniana é célebre: “o analista só se autoriza de si mesmo”. Essa frase, tantas vezes mal compreendida, não é um convite ao autodidatismo irresponsável. Ela aponta para uma responsabilidade radical: ninguém pode delegar a outro — nem a uma instituição, nem a um diploma — a decisão de ocupar o lugar de analista. Essa decisão é ética, sustentada pelo percurso singular de cada um, pelo engajamento efetivo no tripé formativo e pelo reconhecimento de que a formação jamais se completa.
Lacan propôs o dispositivo do passe como uma alternativa à legitimação institucional tradicional. No passe, o candidato testemunha, diante de passadores (analisandos que ocupam uma posição intermediária), sua travessia analítica, os momentos de virada em sua análise e o que o autorizou a ocupar o lugar de analista. Esse dispositivo, controverso e complexo, busca formalizar a autorização sem burocratizá-la, reconhecendo que, embora haja algo de intransmissível na experiência analítica, essa intransmissibilidade necessita encontrar formas de circulação e validação coletiva.
No contexto brasileiro, instituições como a Sociedade Psicanalítica do Recife (SPRPE), filiada à International Psychoanalytical Association (IPA), mantêm estruturas formativas rigorosas, exigindo análise pessoal de alta frequência, supervisões prolongadas e estudo teórico sistemático. Outras correntes, de orientação lacaniana, organizam-se em escolas e cartéis, valorizando a transmissão horizontal e a produção de saber a partir da clínica. Em ambos os casos, o rigor ético é o que distingue uma formação séria de uma pseudoformação.
IV. Os desafios contemporâneos: aceleração, mercantilização e resistência
A formação do psicanalista, na contemporaneidade, enfrenta pressões inéditas. A lógica neoliberal permeia todos os espaços, transformando até mesmo a subjetividade em mercadoria. Desse cenário emergem “formações relâmpago”, cursos de psicanálise que prometem certificação em meses, pacotes de “especialização” que vendem títulos sem exigir análise pessoal. Essas ofertas, embora atendam à demanda de um mercado ansioso por credenciais, traem a essência da psicanálise.
A psicanálise é, por definição, lenta. Ela resiste à aceleração, ao imperativo de eficiência e à lógica do resultado imediato. Formar-se analista exige tempo — tempo para analisar-se, tempo para estudar, tempo para errar e retomar na supervisão. Exige, igualmente, paciência com o não saber, tolerância à incerteza e a disposição para habitar o vazio sem preenchê-lo com respostas apressadas.
Nesse panorama, as instituições psicanalíticas sérias assumem um papel de resistência. Não uma resistência nostálgica, que idealiza o passado, mas uma resistência ética, que sustenta a radicalidade da formação mesmo quando isso é impopular, mesmo quando não gera lucro imediato. Formar psicanalistas é formar sujeitos capazes de escutar o que a cultura não quer ouvir, de sustentar o que o mercado não valoriza.
V. Conclusão: formar-se é sustentar o inacabado
A formação do psicanalista jamais se conclui. Não há um ponto de chegada, um momento em que se possa afirmar: “agora sou analista, estou pronto”. A cada paciente, a cada sessão, algo é recolocado em questão. O analista forma-se — e transforma-se — na escuta, no encontro, no desamparo que cada caso singular produz.
Formar-se psicanalista é construir uma ética: a ética de sustentar o não saber, de habitar o limite, de resistir à tentação de oferecer certezas onde só pode haver a pergunta. É um trabalho de uma vida inteira — um ofício que se faz no divã (como analisando), nos livros (como estudante), na supervisão (como aprendiz) e na clínica (como aquele que escuta).
A psicanálise não se ensina nem se confere. Ela se transmite — de sujeito a sujeito, de inconsciente a inconsciente, na esperança silenciosa de que, ao se dizer, cada um possa encontrar novas formas de existir.
Daniel Lima | Psicanalista | @daniellima.pe

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