Pular para o conteúdo principal

Postagens

O labirinto digital da alma infantil: uma análise psicanalítica da exposição e exploração

  A contundente denúncia de Felca sobre a adultização e sexualização de crianças e adolescentes no ambiente digital, expondo a monetização predatória e o funcionamento perverso do "Algoritmo P", ressoa com inquietante profundidade nas teorias psicanalíticas. Não se trata apenas de um alerta sobre crimes e abusos externos, mas de uma revelação dolorosa sobre a fratura de dinâmicas fundamentais para o desenvolvimento psíquico saudável. A análise desses fenômenos sob a ótica de Melanie Klein, Donald Winnicott, Thomas Ogden e Antonino Ferro não apenas desvela os complexos mecanismos inconscientes em jogo, mas também oferece uma compreensão mais profunda dos danos psíquicos infligidos, que se estendem muito além da superfície da mera exposição. Melanie Klein e a fratura das relações de objeto iniciais Sob a lente da psicanálise kleiniana, a compulsão desenfreada dos pais pela monetização e engajamento nas redes sociais emerge como uma  identificação projetiva patológica . Nesse me...
Postagens recentes

Psicanálise sob regulamentação: riscos, desafios e a defesa da pluralidade

Hoje, no grupo de estudos coordenado por Júlio César Nascimento (@juliocesarnascimentopsicanalis), surgiu um interessante debate sobre a regulamentação da psicanálise, o que me motivou a registrar algumas reflexões sobre o tema. O debate em torno da sugestão legislativa que propõe tornar a psicoterapia exclusiva a psicólogos e médicos psiquiatras ganhou destaque nesta terça-feira, 5 de agosto de 2025, na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, por meio das Sugestões Legislativas SUG 1/2024 (que defende a exclusividade para psicólogos e psiquiatras) e SUG 40/2019 (que propõe a prática privativa a psicólogos). A audiência pública, conduzida pela relatora, senadora Mara Gabrilli (PSD-SP), contou com a participação de diversos especialistas, conselhos e associações técnicas, como CFP, CFM, CNS, ABPBE, entre outros. Segundo o Conselho Federal de Psicologia, a proposta visa garantir que a psicoterapia seja exercida apenas por profissionais com formação adequada, estágio supervisionad...

Caminhos e vínculos: uma reflexão sobre a amizade

          A foto acima é de uma simplicidade tocante: três crianças caminhando por uma trilha de terra batida, envoltos pelo abraço discreto da natureza. Um deles, com o braço sobre o ombro do amigo, sugere cumplicidade e apoio. Não há palavras, apenas gestos e a quietude de uma jornada partilhada. Essa cena, tão corriqueira, carrega em si a profundidade de um dos pilares mais antigos e essenciais da experiência humana: a amizade.           Mas o que é a amizade em sua essência? Seria apenas um afeto, um gosto pelo outro? A complexidade desse vínculo nos convida a ir além do senso comum, buscando nas lentes da filosofia, da psicanálise e da sociologia um entendimento mais rigoroso e, ao mesmo tempo, mais humano. A perspectiva filosófica: a escolha virtuosa e o bem compartilhado           Desde a antiguidade, filósofos se debruçaram sobre a philia, a amizade. Para Aristóteles, a amizade mais elevada não é a de uti...

Encontrando-se no meio da tempestade

          Há momentos em que o mundo interno parece ruir. Uma culpa que não se explica, uma vergonha que corrói por dentro, a sensação de não caber em si — tudo isso pode surgir como uma onda que arrasta consigo qualquer traço de estabilidade. Nessas horas, a dor parece maior do que a própria capacidade de existir. Mas é justamente nesse desamparo que algo essencial está tentando emergir. Algo que, embora sem palavras, pede escuta, cuidado e reconhecimento.           A psicanálise nos ensina que certas dores não nascem no presente, mas reaparecem como ecos de vivências precoces, quando ainda não havia um ambiente suficientemente bom para sustentar o ser. Muitas vezes, basta um comentário aparentemente inofensivo para desencadear uma reação intensa — não por conta do conteúdo em si, mas porque ele toca, sem querer, regiões psíquicas ainda abertas, onde habita uma criança não acolhida, marcada por experiências de falha, abandono ou não-rec...

Quando a dor pede acolhimento, não explicação

           Há dores que não cabem nas palavras. Não porque sejam indizíveis, mas porque, ao serem ditas, correm o risco de não serem acolhidas. E é justamente esse o drama de muitos que procuram ajuda: o medo de que, ao revelar o que sentem, sejam corrigidos, julgados ou abandonados. Na escuta clínica, especialmente sob a lente da psicanálise winnicottiana, aprendemos que há sofrimentos que não pedem interpretação imediata, mas sim presença. Pedem um outro que não se assuste com a intensidade do que retorna — um outro que permaneça.            Donald Winnicott, psicanalista inglês que dedicou sua obra a pensar a importância do ambiente nos primeiros anos de vida, nos ensina que, quando algo falha de forma grave nesse início, o sujeito não se desenvolve em continuidade. Ele sobrevive. E sobrevive, muitas vezes, por meio de um “falso self”: um modo de existir moldado para não perturbar, para garantir a presença do outro a qualque...

O encontro e o desencontro na era digital: considerações complementares sobre a “tinderização” das relações.

            Se o fenômeno da “tinderização”, como discutido anteriormente, revela faces de efemeridade, narcisismo e individualismo extremo, por outro lado, ele também abre espaço para novas configurações de afetos e para o surgimento de possibilidades que escapam às estruturas tradicionais das relações amorosas e sexuais. É necessário, portanto, ampliar o olhar para esse fenômeno, investindo em uma reflexão mais aberta sobre as ambiguidades e potências da experiência mediada digitalmente. Em tempos nos quais a fragmentação do cotidiano, a sobrecarga de informações e o “tempo rápido” das redes parecem impossibilitar o vínculo, o florescimento dos aplicativos pode ser entendido também como resposta à solidão urbana e à busca legítima por pertencimento. Aplicativos de encontros fornecem meios democratizados de acesso a novos círculos, propõem uma espécie de “vitrine” da diversidade humana e permitem que indivíduos com interesses ou orientações antes invisibi...

A “tinderização” das relações: o que os apps de encontro nos dizem sobre amar hoje.

    Você já parou para pensar no que o Tinder — e outros aplicativos de relacionamento — revelam sobre como nos relacionamos hoje? Muito além de uma ferramenta para marcar encontros, essas plataformas escancaram algo mais profundo: a forma como o amor, o desejo e os vínculos se transformaram na era da velocidade, da hiperconexão e do consumo afetivo. A gente vive o que o sociólogo Zygmunt Bauman chamou de modernidade líquida: tudo muda rápido, nada parece durar muito, e as relações humanas entram nessa mesma lógica. Os vínculos estão mais frágeis, menos comprometidos, mais “descartáveis”. E o Tinder é quase um símbolo disso. Deslizar para a direita ou para a esquerda se tornou uma metáfora do quanto passamos a escolher — e também a excluir — pessoas com um simples movimento de dedo, como quem escolhe uma roupa ou um filme na Netflix. Nesse contexto, como fica o amor? Como lidar com esse desejo de conexão em um ambiente em que tudo parece girar em torno da performance, da image...
Sua assinatura não pôde ser validada.
Você fez sua assinatura com sucesso.

Newsletter

Assine nossa newsletter e mantenha-se atualizado.