Há momentos em que o mundo interno parece ruir. Uma culpa que não se explica, uma vergonha que corrói por dentro, a sensação de não caber em si — tudo isso pode surgir como uma onda que arrasta consigo qualquer traço de estabilidade. Nessas horas, a dor parece maior do que a própria capacidade de existir. Mas é justamente nesse desamparo que algo essencial está tentando emergir. Algo que, embora sem palavras, pede escuta, cuidado e reconhecimento. A psicanálise nos ensina que certas dores não nascem no presente, mas reaparecem como ecos de vivências precoces, quando ainda não havia um ambiente suficientemente bom para sustentar o ser. Muitas vezes, basta um comentário aparentemente inofensivo para desencadear uma reação intensa — não por conta do conteúdo em si, mas porque ele toca, sem querer, regiões psíquicas ainda abertas, onde habita uma criança não acolhida, marcada por experiências de falha, abandono ou não-rec...