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Mostrando postagens de julho, 2025

Caminhos e vínculos: uma reflexão sobre a amizade

          A foto acima é de uma simplicidade tocante: três crianças caminhando por uma trilha de terra batida, envoltos pelo abraço discreto da natureza. Um deles, com o braço sobre o ombro do amigo, sugere cumplicidade e apoio. Não há palavras, apenas gestos e a quietude de uma jornada partilhada. Essa cena, tão corriqueira, carrega em si a profundidade de um dos pilares mais antigos e essenciais da experiência humana: a amizade.           Mas o que é a amizade em sua essência? Seria apenas um afeto, um gosto pelo outro? A complexidade desse vínculo nos convida a ir além do senso comum, buscando nas lentes da filosofia, da psicanálise e da sociologia um entendimento mais rigoroso e, ao mesmo tempo, mais humano. A perspectiva filosófica: a escolha virtuosa e o bem compartilhado           Desde a antiguidade, filósofos se debruçaram sobre a philia, a amizade. Para Aristóteles, a amizade mais elevada não é a de uti...

Encontrando-se no meio da tempestade

          Há momentos em que o mundo interno parece ruir. Uma culpa que não se explica, uma vergonha que corrói por dentro, a sensação de não caber em si — tudo isso pode surgir como uma onda que arrasta consigo qualquer traço de estabilidade. Nessas horas, a dor parece maior do que a própria capacidade de existir. Mas é justamente nesse desamparo que algo essencial está tentando emergir. Algo que, embora sem palavras, pede escuta, cuidado e reconhecimento.           A psicanálise nos ensina que certas dores não nascem no presente, mas reaparecem como ecos de vivências precoces, quando ainda não havia um ambiente suficientemente bom para sustentar o ser. Muitas vezes, basta um comentário aparentemente inofensivo para desencadear uma reação intensa — não por conta do conteúdo em si, mas porque ele toca, sem querer, regiões psíquicas ainda abertas, onde habita uma criança não acolhida, marcada por experiências de falha, abandono ou não-rec...

Quando a dor pede acolhimento, não explicação

           Há dores que não cabem nas palavras. Não porque sejam indizíveis, mas porque, ao serem ditas, correm o risco de não serem acolhidas. E é justamente esse o drama de muitos que procuram ajuda: o medo de que, ao revelar o que sentem, sejam corrigidos, julgados ou abandonados. Na escuta clínica, especialmente sob a lente da psicanálise winnicottiana, aprendemos que há sofrimentos que não pedem interpretação imediata, mas sim presença. Pedem um outro que não se assuste com a intensidade do que retorna — um outro que permaneça.            Donald Winnicott, psicanalista inglês que dedicou sua obra a pensar a importância do ambiente nos primeiros anos de vida, nos ensina que, quando algo falha de forma grave nesse início, o sujeito não se desenvolve em continuidade. Ele sobrevive. E sobrevive, muitas vezes, por meio de um “falso self”: um modo de existir moldado para não perturbar, para garantir a presença do outro a qualque...
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