Hoje
em dia para muitas pessoas, saúde é o seu maior bem. A cada dia tem sido mais
comum ver pessoas praticando atividades físicas. Muitos parecem tratar seu
corpo como verdadeiras máquinas que tem a obrigação de seguir funcionando
perfeitamente e quando a “máquina” apresenta problemas é levada ao “conserto”.
As pessoas muitas vezes se esquecem de que sua saúde tem relação com seu modo
de viver, ou seja, não é algo que alcançamos desenvolvendo um sistema de saúde
eficiente, focado na cura da doença. É uma questão de viver de forma saudável. Além
da prática de exercícios físicos e uma boa alimentação, é preciso cuidar também
da mente.
Tão
importante quanto preocupar-se com a saúde do corpo, cuidar da mente também é
fundamental, pois o que você não resolve na mente, o corpo transforma em
doença. Quem cuida da mente cuida da vida! Como diria uma famosa citação latina
do poeta romano Juvenal: “Mens sana in
corpore sano” (“uma mente sã num
corpo são”). Derivada da sátira X a frase é parte da resposta do autor à
questão sobre o que as pessoas deveriam desejar na vida. Parece que em nossos
dias existe muito desejo e pouca vida. Inquietude é um traço da sociedade
contemporânea, de modo que as pessoas estão cada vez mais estressadas,
ansiosas, depressivas... e isso tem afetado o organismo.
A
sabedoria popular, de forma intuitiva, captou a existência de uma estreita e
incontestável relação entre os estados mentais e os corporais. Dentre tantas
expressões populares que atestam esta relação cito duas: “fiquei cego de raiva” ou “estou
com o estômago embrulhado de tanto nojo”. No entanto, a primeira vez que o
termo psico-somático (psique [mente] e
soma [corpo]) apareceu na literatura médica foi há aproximadamente 200
anos, em um texto de Heinroth, clínico e psiquiatra alemão. Um dos seguidores
desta linha de pensamento médico foi William Motsloy, que a mais de 100 anos,
demonstrou alto grau de intuição quando escreveu que “quando o sofrimento não pode expressar-se pelo pranto, ele faz chorarem
os outros órgãos”. No final da década de 40, o termo “psicossomático” passou a ser empregado como substantivo, para
designar, no campo da medicina, a decisiva influência dos fatores psicológicos
na determinação das doenças orgânicas, já admitindo uma inseparabilidade entre
elas.
Ninguém
mais contesta a interação que existe entre o psiquismo determinando alterações
somáticas e vice-versa. Isso ocorre de maneira simples e até corriqueira (como
estados de raiva e medo produzindo palidez e taquicardia; um estado gripal
desencadeando uma reação depressiva, ou um estado depressivo facilitando o
surgimento de uma gripe), passando por situações complexas.
Sigmund
Freud em 1905 já dizia que nem toda comunicação é verbal, o corpo também se
comunica, podemos perceber isso claramente no “Caso Dora”: “nenhum mortal pode
guardar um segredo; se sua boca permanece em silêncio, falarão as pontas de
seus dedos [...]”. O corpo manifesta os impulsos silenciosos da nossa mente
e muitas vezes reage adoecendo, ou seja, a doença é um apelo para que eu dê
novas diretrizes à minha vida. Para Jacques Lacan “doenças são palavras não ditas”.
Portanto,
procurar um psicanalista, psicólogo ou psiquiatra não é um ato de fraqueza ou
loucura, mas uma demonstração de coragem, lucidez, força e determinação para
mudar o que impede o bem estar. O processo de análise visa nos reconciliar de
modo duradouro com a nossa própria história. Sendo assim, o processo
psicanalítico não é para quem tem problema, pois todo mundo tem, mas sim para
quem quer resolvê-los, ou como diria Freud: “aquele que faz análise tem uma relação diferente com o que chamamos de
destino”. A psicanálise não é apenas um método terapêutico, mas uma
investigação profunda sobre o inconsciente do sujeito. O objetivo da análise
não é apenas a redução de sintomas ou sofrimentos, mas a ampliação da
capacidade do sujeito ser mais espontâneo sem fixar-se excessivamente em
respostas sintomáticas e viver melhor.
Daniel Lima
Psicanalista
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