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Angústia e Pós-Modernidade

A ansiedade faz parte da vida das pessoas e acontece devido a um aumento de tensão inesperado, ou mesmo previsto, sempre que surge algum tipo de ameaça. Quando a ansiedade é excessiva, corremos o risco de desenvolver distúrbios. Esta situação pode ser percebida claramente, quando as sombras e os medos criados interferem na nossa vida pessoal e profissional. Sendo assim, devemos perguntar a nós mesmos se a ansiedade está nos atrapalhando de modo geral, pois ela pode se desenvolver em qualquer situação, real ou imaginária. Desta forma, a ansiedade pode acontecer por inúmeros motivos, no campo dos acontecimentos, sentimentos ou mesmo comportamentos. As causas mais comuns estão ligadas a medo, preocupação e pressa.

Nem sempre a ansiedade estará ligada a sintomas físicos. Às vezes, a pessoa sofrerá um ataque de pânico ou desenvolverá uma fobia sem saber o porquê. Alguns sintomas psicossomáticos podem ser: palpitações, boca seca, dilatação das pupilas, falta de ar, transpiração, sintomas abdominais, tremores e tontura. As reações emocionais incluem irritabilidade, dificuldade de concentração, inquietação e fuga das situações ou objetos temidos.

Ansiedade é a expressão sintomática de um conflito emocional interno que ocorre quando certas experiências, sentimentos e impulsos perturbadores são suprimidos da consciência. Mas os conteúdos mantidos no inconsciente retêm grande parte da catexia psíquica original. A liberação de lembranças ou impulsos proibidos, que buscam gratificação, provoca ansiedade por ser ameaçadora para o ego. O mesmo ocorre quando experiências traumáticas, profundamente soterradas, assolam o ego, exigindo uma elaboração das suas angústias através da fala no setting analítico.

Segundo especialistas, o mal dos tempos modernos é a ansiedade, que vem crescendo de forma rápida e impiedosa, tomando conta do Brasil e do mundo. Durante décadas esse sintoma foi subestimado, mas hoje se reconhece que ele pode inviabilizar a vida social e profissional do sujeito. Mesmo assim, poucas pessoas buscam tratamento para entender a causa antes que cheguem ao limite. De acordo com dados da Previdência Social, os transtornos mentais já são a terceira razão de afastamentos do trabalho no Brasil. Nesse contexto, a ansiedade, assim como a depressão, são os males que mais afetam as pessoas em nossos dias. Os levantamentos da Organização Mundial da Saúde (OMS), mostram que atualmente cerca de 33% da população mundial sofre de ansiedade.

Peço licença para, neste texto, trocar a palavra ansiedade pela palavra angústia. Houve uma discussão ocasionada pela tradução da palavra que Freud utilizou: angst, traduzida para o Português, na Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, como ansiedade. No entanto, a Companhia das Letras, em 2014, lançou As Obras Completas volume 17 e considera mais adequado traduzir como angústia, expressão própria da Psicanálise.

Sigmund Freud, ao chegar aos 70 anos de idade, lança hipóteses inovadoras sobre a origem da angústia, que tornam caducas as anteriores. De fato, durante mais de 30 anos, ele se ateve a uma concepção biológica do mecanismo de aparição da angústia, segundo a qual, uma libido insatisfeita encontraria uma via de descarga, transformando-se diretamente em angústia como: “(...) ela [a angústia] está para a libido mais ou menos como o vinagre está para o vinho” (Freud, 1905d, nota acrescentada em 1920, p. 168). Ele estudou a angústia em dois momentos de sua obra. Na primeira formulação, a angústia seria consequente à repressão, o que provocaria uma libido acumulada que funcionaria de uma maneira “tóxica” no organismo. A partir de sua monografia inibições, sintomas e angústias (1926), conceituou de forma inversa, ou seja, a repressão é que se processa como uma forma de defesa contra a ameaça de irrupção da angústia.

A sociedade pós-moderna nos impõe condições de vida que favorecem uma angústia cada vez maior e, por isto, a população deve estar preparada para lidar com elas. Uma ferramenta essencial, que está à disposição de todos, é a Psicanálise, um método investigativo do sujeito, que trabalha conteúdos inconscientes sem o qual o sujeito não é capaz de lidar com frustrações do passado, que se repetem no presente.

Daniel Lima
Psicanalista

Comentários

  1. Acredito que são poucas as pessoas que estão livres desse mal, contudo saber que é mais uma pessoa acometida é que preocupa conhecer sintomas e procurar ajuda acredito ser o mais fácil existe a necessidade de mais divulgação desse mal para só assim diminuir uma estatística tão crescente.

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