"A mente é a fonte do nosso sofrimento e da nossa felicidade."
— Chagdud Tulku
Atualmente, para muitas pessoas, a saúde é considerada seu maior patrimônio. A prática de atividades físicas tem se tornado cada vez mais comum, com muitos tratando seus corpos como máquinas que devem funcionar perfeitamente. Quando esses corpos "máquinas" apresentam problemas, são prontamente levados ao "conserto". No entanto, frequentemente esquece-se que a saúde está intrinsecamente ligada ao modo de vida, ou seja, não se resume a ter um sistema de saúde eficiente focado apenas na cura de doenças, mas sim em viver de forma saudável. Além de praticar exercícios físicos e adotar uma boa alimentação, é crucial cuidar também da mente.
Cuidar da mente é tão essencial quanto cuidar do corpo, pois problemas não resolvidos na mente podem se manifestar em doenças físicas. Cuidar da mente é cuidar da vida. A famosa citação "Mens sana in corpore sano" (“uma mente sã num corpo são”), do poeta romano Juvenal, parte da sátira X, reflete o que deveríamos desejar na vida. Hoje, parece haver muito desejo, mas pouca vida. A inquietude caracteriza a sociedade contemporânea, resultando em níveis elevados de estresse, ansiedade e depressão, que afetam o organismo.
A sabedoria popular capturou intuitivamente a relação entre estados mentais e corporais por meio de expressões como “fiquei cego de raiva” ou “estou com o estômago embrulhado de tanto nojo”. O termo “psicossomático” surgiu há cerca de 200 anos, graças a Heinroth, um clínico e psiquiatra alemão. Nos últimos 100 anos, William Motsloy destacou-se ao afirmar que "quando o sofrimento não pode expressar-se pelo pranto, ele faz chorarem os outros órgãos”. A partir da década de 40, o termo “psicossomático” passou a ser utilizado na medicina para demonstrar a influência decisiva dos fatores psicológicos nas doenças orgânicas, reconhecendo a inseparabilidade entre mente e corpo.
Hoje, é inquestionável a interação entre o psiquismo e as alterações somáticas, e vice-versa. Isso ocorre desde situações simples (como raiva e medo causando palidez e taquicardia, ou um estado gripal desencadeando reações depressivas) até cenários mais complexos.
Sigmund Freud, em 1905, afirmou que a comunicação não se limita ao verbal; o corpo também fala, como exemplificado no “Caso Dora”: "nenhum mortal pode guardar um segredo; se sua boca permanece em silêncio, falarão as pontas de seus dedos [...]". O corpo expressa os impulsos silenciosos da mente, muitas vezes adoecendo como um apelo para mudanças de vida. Jacques Lacan reforça: “doenças são palavras não ditas”.
Procurar um psicanalista, psicólogo ou psiquiatra representa coragem, lucidez e determinação para promover o bem-estar. A análise psicanalítica visa reconciliar, de forma duradoura, com a própria história, oferecendo uma relação transformada com o destino, como afirmou Freud. A psicanálise, mais que um método terapêutico, é uma profunda investigação do inconsciente. Seu objetivo não se limita à redução de sintomas, mas à ampliação da capacidade do sujeito para ser mais espontâneo e menos preso a respostas sintomáticas, vivendo melhor.
Daniel Lima
Psicanalista
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