Jean-Jacques Rousseau, em 1762, advertiu em "Emílio ou Da Educação": "sabe qual é a maneira mais certa de deixar seu filho infeliz? Acostumá-lo a receber tudo." Ele argumentava que satisfazer todos os desejos de uma criança apenas intensifica sua ansiedade e torna mais difícil lidar com eventuais frustrações.
O pediatra, psiquiatra e psicanalista infantil Dr. Donald W. Winnicott enfatizou a importância dos pais imporem limites. Ele via o "não" como uma forma de construir confiança, permitindo que a criança perceba que a mãe sobrevive aos seus ataques e continua a estabelecer limites. Dizer "não" ajuda as crianças a distinguirem entre o eu e o outro, expressando o desejo dos pais: "eu não quero que você faça isso..."
É importante evitar dizer "não pode", pois a criança logo perceberá que, na verdade, pode. O limite deve ser estabelecido como o desejo de quem cuida, não como uma imposição autoritária. O autoritarismo impede o desenvolvimento saudável do sistema límbico da criança, responsável pelas emoções e comportamentos sociais. Quando o sistema límbico completa seu ciclo, ele cria a autoestima - a capacidade ética de gostar de si mesmo.
Além de seres psíquicos, somos seres biológicos, e é o córtex pré-frontal que nos proporciona juízo crítico, ativado pela frustração. Estudos recentes em neurologia, neurociência, psicologia e psicanálise comprovam que a frustração é benéfica, pois suportá-la gera crescimento. Portanto, dizer "não" baseado no desejo dos pais não é autoritarismo, mas promoção de saúde mental.
O historiador Leandro Karnal denomina a geração atual como "a mais mimada da história", alertando para a ausência de limites e a tendência dos pais cederem constantemente. Quando dizemos "não" a uma criança, acionamos seu sistema límbico, gerando raiva. Muitos pais têm dificuldade em lidar com essa raiva, seja por culpa ou cansaço.
Atualmente, muitas crianças vivenciam uma infância curta, seguida de uma longa adolescência, tornando-se adultos incapazes de fazer escolhas, corrigir erros e assumir responsabilidades. Crescem ansiosos e inseguros, transformando-se de crianças mimadas em adultos frustrados, incapazes de abandonar modelos infantis ao lidar com a realidade.
É fundamental que os pais se conscientizem e busquem mudar essa dinâmica, compreendendo que dizer "não" aos filhos é saudável e essencial para seu desenvolvimento equilibrado. Essa mudança de paradigma é crucial para evitar prejuízos nas próximas gerações e promover o crescimento de indivíduos emocionalmente maduros e socialmente adaptados.
Daniel Lima
Psicanalista
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