A cultura atual exalta o imediatismo, promovendo uma busca insaciável por prazeres momentâneos. Este estado de insatisfação contínua é ampliado pela convivência social, que, como apontou Freud em "O Mal-estar da Civilização", é uma das principais fontes de sofrimento humano. Apesar de Freud considerar a felicidade o objetivo da vida, ele reconhecia que o caminho para alcançá-la está repleto de desafios que requerem enfrentamento, não evitação. Como ele destacou, nossa maior abertura emocional nos predispõe tanto para a dor quanto para a alegria.
A visão filosófica de Schopenhauer, que percebe a vida como dor ou tédio, ressoa na impressão atual de que a busca pela felicidade deve ser sem sofrimento. No entanto, a ausência de um gozo pleno é justamente o que mantém o desejo vivo e duradouro. O imperativo contemporâneo da satisfação imediata torna a dor e o sofrimento insuportáveis, desconsiderando que a verdadeira felicidade demanda a aceitação da ambivalência emocional, distante do conceito publicitário de felicidade perpétua e superficial.
Montesquieu, em seus pensamentos, sugeriu que a dificuldade reside na comparação da nossa felicidade com a dos outros, acreditando que eles são mais felizes. Essa comparação impede o reconhecimento e a valorização do que se tem internamente, promovendo fragilidade e solidão nos indivíduos modernos. Na busca por prazer imediato, o sujeito contemporâneo rompe com os limites do simbólico paterno e do princípio da realidade, arriscando-se na cultura da pulsão de morte, onde o prazer absoluto leva à autodestruição. Esta pulsão, que Freud descreveu como além do princípio do prazer, reflete uma cultura que não suporta mais o sofrimento.
A cultura atual colide com a realidade interna dos indivíduos, gerando uma pressão para que não basta ser, é preciso transparecer algo significativo para os outros. Esse fenômeno reflete uma cobrança interna e externa, causando desassossego. A felicidade genuína reside na harmonia entre os desejos, sentimentos e a realidade, numa sintonia verdadeira com o próprio ser, como propôs Espinoza. Ele sugere que reconhecer que "nosso destino é só nosso" é essencial para encontrar alegria na tristeza, reafirmando que ambas coexistem.
Daniel Lima
Psicanalista
Parabéns Daniel Lima!!
ResponderExcluirSua página se arquiteta de excelentes reflexões sobre a arma mais poderosa que existe (a mente humana). Arma essa capaz de pintar a face do mundo tanto com "cinquenta tons de azul bebê" como com "cinquenta tons de negrito", isso vai depender daquilo que cultivamos dentro dela. É, justamente, nisso que consiste o trabalho do psicanalista, ele é um agricultor experiente que sabe nos ajudar a escolher as melhores sementes pra fazer da nossa cabeça um jardim, quando muitas vezes temos feito dela um pântano.
Todo sucesso na sua profissão que ela continue a florescer como este blog!